Ele tinha saído de manha e deixara a chave na porta como todos dias,quando eu acordasse podia ir comprar pão, voltar pra casa, sentar e ver aquele programa de canal ruim enquanto pensava no dia.
Fiz tudo até a parte de abrir os olhos,quando peguei a chave olhei pra sala e vi o quadro e vi todas as fotos tiradas de uma vida que não era minha, não era nossa, e era dele.
Junto com aquele quadro comprado naquele domingo quente na feira,vi cores que ele nunca enxergava,tons diferentes de céu .
Pensei em como seria difícil caminhar pela rua com os pés descalços de amor,como poderia suportar a idéia de não ter aquele chá de boldo quente diariamente,mas,diante do nada de tudo isso nem chegou a me incomodar tanto,já que tanto fazia me perder ou perder o rumo num mundo que eu queria descobrir ,
Antes de abandonar aquele corpo,voltei .
Andei por cada cômodo sentindo o ar como se fosse o ultimo ou se como nunca mais fosse sentir cheiro algum..cheiro de máscara,com pitadas leves de girassol e glamour,
Abri o guarda-roupa e peguei peça por peça vendo sentimentos que não cabiam em mim,sapatos que não cabiam nos meus passos.
Fui andando em direção a porta sem olhar pra trás e sentindo o barulho do gelado de eu pisava, ia pela madeira deixando cair pedaços de uma alma desapegando do sono.
Andei, andei ,andei sem olhar se tinha fechado a gaveta cheia de consideração e remorso, sim deixei-a aberta e saí em direção a porta, peguei a chave ainda com aparência de nova e me parti..deixando aquele desejo do provável dia certo,sabendo dentro de mim uma vontade de voar, e dizer o que me fazia piscar.
Saí e vi que tinha esquecido o dinheiro do pão.
Fabiola Porto
E se perder a chave?
ResponderExcluir